quinta-feira, 11 de abril de 2013

Vingança

Primeiro ele me apertou. Do mesmo jeito que você me apertava. Não, foi um pouco mais leve. E suas mãos são maiores. Cheirou meu pescoço, elogiou meu perfume e abriu um sorriso. Já vi esse filme. Só que eram olhos azuis que me miravam, não os verdes dele. Verde nunca foi minha cor favorita. Por fim, a gente se beijou. Confesso que gosto do beijo. Se não gostasse, duvido muito que ele ainda estaria aqui na minha frente. Enquanto ele desabotoa minha blusa, eu penso em você.

Tomara que, como ondas do rádio, esse pensamento te encontre de alguma forma. Não é uma traição. Depois que a gente terminou, de comum acordo por não aguentarmos a distância. Pensar que algumas horas de carro eram suficientes para nos vermos. Hoje é o bastante para nem chegarmos perto da estrada. Último botão. Ele me morde, instiga. Eu gosto. Só que você sabia morder um pouquinho mais forte sem machucar. Marcava e eu adorava. Se ele deixar uma marca eu juro que bato nele.

Um pouco mais forte que você, me pega no colo, me leva pro quarto e me joga no colchão da minha cama. Lógico que seria na minha. Não ia me enfiar na casa dele. Quando eu estou com vontade eu abato no meu matadouro. Voltando ao assunto, acho que estou traindo sim. Todo o sentimento que ainda nutro por você e não consigo esquecer. Se for esse passado que não consigo me livrar, cada gole que ele dá no meu prazer é uma traição. E eu me sinto mal pensando nisso.

Então, desligo. Nos próximos segundos a gente vai cometer o crime de se entregar. E eu não pretendo deixar a porta fechada pra ele. Quantas vezes eu afirmei que, sim, era você quem eu queria. Pra vida, pra cama, na dor, na hora, ou em qualquer situação. Era você. E se você estiver parado na porta da minha casa, ainda será você. E se um dia o amor por esse cara, que agora se deita no lugar onde você ficava tão bem, aflorar, eu ainda acho que tudo que sinto ainda estará aqui. Intacto.

Não estou com outro agora porque você me contou que dormiu com outra aí também. Eu não sou tão vingativa assim e tenho certeza que você falou isso para me magoar, pra que eu me sentisse mal e te esquecesse. Não sou boba ao ponto de ainda fazer o que você planeja. O meu plano ainda é viver contigo, mas não vou fazer força. Que esse pensamento te atinja de alguma forma e você desperte. Um amor tão grande assim não desaparece.



' Gustavo Lacombe

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Precisamos Conversar

Ele segurou meu cabelo do jeito que eu gostava. Me abraçou, fez aquela coisa de colocar a outra mão no meio das minhas costas e pressionar meu corpo contra o dele. Já podia sentir que seria mais uma noite daquelas. Não tínhamos tanto tempo juntos, mas eu já estava me abrindo toda pra ele. Contava alguns segredos, falava do meu dia, e ia me envolvendo cada vez mais.

Só pra variar, o sexo foi sensacional. Não o que tinha naquele cara que me deixava maluca. Tinha acabado de sair de um namoro quando o conheci. Foi uma atração instantânea. Não teve como segurar. Porém, eu começava a me dar demais, me entregar demais. Até que aquelas duas palavras me fizeram broxar. Precisamos conversar, disse. Estirada na cama, mal tinha forças pra levantar. Só que eu dei um pulo com aquilo.

Poderia ser por algo bom, mas a gente já tinha combinado de não levar aquilo tudo adiante. No dia em que brinquei dizendo que meus pais queriam o conhecer, ele desconversou logo. A conversa dele não era coisa boa. Que foi?, fui logo perguntando. Quando ele abriu o jogo e disse que tinha namorada, vesti a roupa e deixei ele lá no motel, pelado e atônito com o que eu fazia. E a gente ainda rachava a conta porque ele sempre dizia que estava meio sem dinheiro. Era até verdade, mas ele que se vire, pensei. Que vá lavar lençol sujo com a porra dos outros.

Não fiz discurso na saída. Era desnecessário. Se a gente não queria se assumir, tudo bem, era uma desculpa pra gente manter a nossa privacidade. Só que nunca tínhamos dito para nos esconder. Meus amigos sabiam que ele existia. Eu contava coisas íntimas a ele. Eu não tinha porque me esconder. Eu me entregava. Não sonhava que um dia a gente casasse, mas eu gostava dele. Um dia poderia vir a ser algo sério.

Agora, me enganar durante esse tempo e, de repente, me contar tudo isso como se eu fosse lamber o saco dele e dizer que tudo bem, meu amor, eu gosto de você e não ligo? Nunca. Traição é algo que acontece. Eu mesma já traí, mas me arrependi. Quando você está com alguém, está porque quer. Não quer mais, pede pra sair. Deixa o outro livre e vai curtir a sua liberdade. Fazer alguém dedicar tempo e sentimento a você sem, no mínimo, ser honesto, é covardia.

Saí do motel, peguei um táxi e fui pra casa. Sentia raiva. Foda era as pernas ainda tremerem depois da transa. Fiquei com mais raiva ainda. Como eu não tinha percebido? Fui refazendo nossos passos na cabeça e vendo que alguns sinais eram bem óbvios, mas eu o curtia demais para me preocupar com aquilo. Foi um erro ter ficado cega por tanto querer, mas não fui eu quem perdi. Ele é quem perdia por brincar com os outros. 

O mal dele foi achar que eu gostaria de ser a outra. Ele não me conhecia mesmo. Eu sou única.


' Gustavo Lacombe