De como ele grudava na minha camisa e, mesmo que longe, parecia que você ainda se aninhava no meu peito me olhando, e começa suas frases com aquele apelido que só você usava. Aí, aquela imensidão ondulada e castanha caía sobre mim quando você se mexia e vinha pra cima. A boca, sempre quente, se abria para o beijo no exato instante que a perna subia por mim e parecia querer me prender. Podia ser no sofá, nas almofadas jogadas no chão da sala ou na sua cama, que de tanto ranger com nós dois, teve o colchão promovido ao nível do solo. Imagina se a gente iria querer acordar quem estava no quarto ao lado, né? E, depois de todo amor feito, eu te abraçava, sentia teu calor e não me preocupava com o suor que escorria do rosto. Quando me levantava, se no teu quarto, dava de cara comigo no espelho do banheiro. Por vezes me peguei olhando dentro dos meus próprios olhos e dizendo “você tem muita sorte”. Olhava pra trás, via parte do teu corpo branco. Pernas, coxas, barriga e colo, mas meus olhos sempre paravam nos seus cabelos. Mesmo depois de analisar nariz, queixo, boca e olhos, eu ainda tinha fascínio pelos cabelos. Lugar preferido das minhas mãos (mesmo que teu quadril, bunda e teus peitos fazendo forte concorrência), me embolava sem pressa. Tal qual um cara que se embrenha num labirinto sem querer achar a saída, esse era eu nos teus lençóis, sem querer encontrar a despedida. Os finais de semana, tão preenchidos de outros afazeres como amigos, festas ou escapulidas no supermercado para comprar nosso almoço, poderiam, sim, se resumir a nós dois. Literalmente dentro de você, além da morada que um já tornara o coração do outro, vivíamos o ápice de um amor tão surrado, maltratado e acostumado a idas e vindas, brigas e reencontros, mal entendidos e explicações, mordidas e sopros, saudades e chegadas, choros e risos, acasos e o cumprimento de um destino.
Eu sinto falta do cheiro do teu cabelo.
#GustavoLacombe
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