segunda-feira, 28 de abril de 2014

Eu sinto falta do cheiro do teu cabelo.

De como ele grudava na minha camisa e, mesmo que longe, parecia que você ainda se aninhava no meu peito me olhando, e começa suas frases com aquele apelido que só você usava. Aí, aquela imensidão ondulada e castanha caía sobre mim quando você se mexia e vinha pra cima. A boca, sempre quente, se abria para o beijo no exato instante que a perna subia por mim e parecia querer me prender. Podia ser no sofá, nas almofadas jogadas no chão da sala ou na sua cama, que de tanto ranger com nós dois, teve o colchão promovido ao nível do solo. Imagina se a gente iria querer acordar quem estava no quarto ao lado, né? E, depois de todo amor feito, eu te abraçava, sentia teu calor e não me preocupava com o suor que escorria do rosto. Quando me levantava, se no teu quarto, dava de cara comigo no espelho do banheiro. Por vezes me peguei olhando dentro dos meus próprios olhos e dizendo “você tem muita sorte”. Olhava pra trás, via parte do teu corpo branco. Pernas, coxas, barriga e colo, mas meus olhos sempre paravam nos seus cabelos. Mesmo depois de analisar nariz, queixo, boca e olhos, eu ainda tinha fascínio pelos cabelos. Lugar preferido das minhas mãos (mesmo que teu quadril, bunda e teus peitos fazendo forte concorrência), me embolava sem pressa. Tal qual um cara que se embrenha num labirinto sem querer achar a saída, esse era eu nos teus lençóis, sem querer encontrar a despedida. Os finais de semana, tão preenchidos de outros afazeres como amigos, festas ou escapulidas no supermercado para comprar nosso almoço, poderiam, sim, se resumir a nós dois. Literalmente dentro de você, além da morada que um já tornara o coração do outro, vivíamos o ápice de um amor tão surrado, maltratado e acostumado a idas e vindas, brigas e reencontros, mal entendidos e explicações, mordidas e sopros, saudades e chegadas, choros e risos, acasos e o cumprimento de um destino.

Eu sinto falta do cheiro do teu cabelo.


#GustavoLacombe

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