quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Eu ainda sei o que a gente fez no verão passado - Gustavo Lacombe

Eu ainda sei o que a gente fez no verão passado. Ainda lembro, como se fosse agora, o cheiro do seu cabelo depois do banho, da sua boca suja de sorvete nas tardes de cinema, da sua respiração cansada depois de uma corrida ao meu lado na praia. Eu ainda lembro, mas juro que não queria.

Recordo as implicâncias, as vezes que me tirou do sério e os momentos, ainda no início, de quando mexia com a minha imaginação. Ainda recordo teu olhar pedindo "vai embora não". Parece que ontem eu tava contigo, vivia contigo, amava contigo. Parece que daqui a pouco você vai ligar. Porra, eu ainda não esqueci a merda do número do seu telefone. Onde está o botão de deletar dessa memória ingrata?

Se eu fechar os olhos, vou poder, de qualquer lugar do mundo, traçar um roteiro para chegar até a sua casa. Eu ainda sei o número da sua casa. E do seu sapato também. Na métrica americana. Eu sei onde você trabalha, onde frequenta. Você não mudou quase nada. Eu ainda sei o que a gente fez no verão passado, e no outono, no inverno e primavera. Lembro das flores, dos bilhetes e até das brigas.

Lembro as noites suicidas em que morria em ti. E as manhãs em que renascia ao teu lado. Eu recordo tanto que me preocupo. Tintim por tintim e daqui a pouco começo a falar dos minutos exatos em que os pedidos, os afagos, os beijos e as crises se sucederam.

Entretanto, de tudo que lembro, acho que o mais perigoso é ainda saber o telefone.

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