quarta-feira, 3 de abril de 2013

Precisamos Conversar

Ele segurou meu cabelo do jeito que eu gostava. Me abraçou, fez aquela coisa de colocar a outra mão no meio das minhas costas e pressionar meu corpo contra o dele. Já podia sentir que seria mais uma noite daquelas. Não tínhamos tanto tempo juntos, mas eu já estava me abrindo toda pra ele. Contava alguns segredos, falava do meu dia, e ia me envolvendo cada vez mais.

Só pra variar, o sexo foi sensacional. Não o que tinha naquele cara que me deixava maluca. Tinha acabado de sair de um namoro quando o conheci. Foi uma atração instantânea. Não teve como segurar. Porém, eu começava a me dar demais, me entregar demais. Até que aquelas duas palavras me fizeram broxar. Precisamos conversar, disse. Estirada na cama, mal tinha forças pra levantar. Só que eu dei um pulo com aquilo.

Poderia ser por algo bom, mas a gente já tinha combinado de não levar aquilo tudo adiante. No dia em que brinquei dizendo que meus pais queriam o conhecer, ele desconversou logo. A conversa dele não era coisa boa. Que foi?, fui logo perguntando. Quando ele abriu o jogo e disse que tinha namorada, vesti a roupa e deixei ele lá no motel, pelado e atônito com o que eu fazia. E a gente ainda rachava a conta porque ele sempre dizia que estava meio sem dinheiro. Era até verdade, mas ele que se vire, pensei. Que vá lavar lençol sujo com a porra dos outros.

Não fiz discurso na saída. Era desnecessário. Se a gente não queria se assumir, tudo bem, era uma desculpa pra gente manter a nossa privacidade. Só que nunca tínhamos dito para nos esconder. Meus amigos sabiam que ele existia. Eu contava coisas íntimas a ele. Eu não tinha porque me esconder. Eu me entregava. Não sonhava que um dia a gente casasse, mas eu gostava dele. Um dia poderia vir a ser algo sério.

Agora, me enganar durante esse tempo e, de repente, me contar tudo isso como se eu fosse lamber o saco dele e dizer que tudo bem, meu amor, eu gosto de você e não ligo? Nunca. Traição é algo que acontece. Eu mesma já traí, mas me arrependi. Quando você está com alguém, está porque quer. Não quer mais, pede pra sair. Deixa o outro livre e vai curtir a sua liberdade. Fazer alguém dedicar tempo e sentimento a você sem, no mínimo, ser honesto, é covardia.

Saí do motel, peguei um táxi e fui pra casa. Sentia raiva. Foda era as pernas ainda tremerem depois da transa. Fiquei com mais raiva ainda. Como eu não tinha percebido? Fui refazendo nossos passos na cabeça e vendo que alguns sinais eram bem óbvios, mas eu o curtia demais para me preocupar com aquilo. Foi um erro ter ficado cega por tanto querer, mas não fui eu quem perdi. Ele é quem perdia por brincar com os outros. 

O mal dele foi achar que eu gostaria de ser a outra. Ele não me conhecia mesmo. Eu sou única.


' Gustavo Lacombe

Nenhum comentário:

Postar um comentário

E ai?